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Racismo estrutural: Cantor negro em carro de luxo é abordado por policiais em travessia de balsa entre Santos-Guarujá
O cantor lírico Jean William, de 36 anos, sofreu racismo estrutural na quinta feira (27) ao ter que explicar, em abordagem policial agressiva, que carro de luxo por ele conduzido lhe pertencia e que não carregava drogas em seu interior. Os policiais que realizaram a abordagem não souberam explicar o motivo da mesma.
Jean William, que é negro, resolveu ir à praia no Guarujá com um amigo na data de 27/01/2022 e, para isso, necessitou pegar a balsa Santos-Guarujá para realizar a travessia.
Como foi a abordagem policial
O veículo, um carro de luxo, já estava estacionado na balsa e os amigos conversavam em seu interior, quando Jean William percebeu a presença de policiais, sendo que um deles apontava um revólver em sua direção.
A ação, considerada por William como violenta, foi realizada por 4 (quatro) policiais e o que lhe apontava a arma gritava perguntando se o carro era dele e se havia drogas dentro do veículo.
Ao portal G1, por telefone, Jean William informou: “Levantei as mãos e tentei não fazer nenhum movimento que excedesse o mínimo”.
Ele e seu amigo foram obrigados pelos policiais a desembarcarem do veículo, cujo interior foi revistado muito rapidamente pela polícia que contatou que no porta malas havia somente 2 (duas) cadeiras de praia.
A equipe policial ainda questionou se havia drogas no interior do veículo e se ele pertencia a Jean William, bem como se já havia sido preso anteriormente. Os documentos pessoais foram verificados e a abordagem agressiva somente cessou no momento em que as profissões dos amigos foram questionadas e Jean William respondeu ser cantor lírico, enquanto que seu amigo respondeu ser farmacêutico.
“Percebi, na minha leitura, que eles ficaram com uma cara de que não era ali que estava o que buscavam”, afirmou William.
Não satisfeitos, um dos policiais ainda veio a questionar se o cantor lírico não havia feito nada suspeito que pudesse ter dado causa à denúncia que afirmou ter sido feita para fossem até ali averiguar. Ele informou que havia realizado o desvio de um caminhão antes de ir para a balsa, pois havia errado o caminho. Porém, não foi nenhum desvio suspeito ou em alta velocidade, apenas algo corriqueiro de quando se erra um caminho.
Após as explicações prestadas pelo cantor e seu amigo, a equipe policial simplesmente devolveu os pertences e não explicou absolutamente nada, o que causou indignação: “Eu me senti como se fosse um bandido. Todo mundo dentro da balsa assistindo, foi um constrangimento assustador. E tinha o medo, medo de fazer um movimento brusco para pegar meu documento e levar um tiro”.
Racismo estrutural
Após a abordagem, o dia dos amigos na praia não foi mais como o planejado, já que Jean William ficou o tempo todo repassando os fatos na cabeça e tentando entender os motivos que levaram os policiais a agirem daquela maneira agressiva.
Em razão do acontecido, resolveu fazer contato com o ouvidor da Polícia Militar, Elizeu Lopes, para que este pudesse averiguar o ocorrido. Lopes informou ao portal G1 que vai requerer à Corregedoria da Polícia Militar uma apuração sobre a ação da equipe que abordou William e seu amigo assim que a denúncia for formalizada.
O cantor informou que não questiona a ação da polícia em si, mas a razão de ter sido realizada uma abordagem agressiva. Seu questionamento é sobre o sistema, já que tudo leva a crer que a violência da abordagem é em razão de ser um homem negro dirigindo um carro de luxo que lhe pertence, como se isso não pudesse acontecer de uma forma natural.
Posicionamento da Polícia Militar
Em nota, a Polícia Militar se limitou a informar somente que os procedimentos de operações, abordagens de cidadãos e fiscalização têm por base princípios legais técnicos, mas que, “em atenção ao relato publicado nas redes sociais, acusando os policiais do cometimento de um crime, convidamos o artista a formalizar denúncia, para que possa trazer mais detalhes em relação ao caso”.